Segundo o Diário de Notícias, logo nos primeiros dias da epidemia, o WhatsApp, a rede de mensagens do Facebook, confirmou-se como território ideal para as fake news sobre o COVID-19. Como é uma rede privada e sem fact-checking, a expansão de mentiras parece ser ainda mais rápida que o vírus.
Só no primeiro dia da sua campanha de identificação da desinformação associada ao COVID-19 no WhatsApp, o MediaLab do ISCTE recebeu quase 200 exemplos. Tantos que foi necessário recorrer a uma rede de voluntários para a sua codificação.
As informações falsas têm sido partilhadas sobretudo através de ficheiros áudio. São geralmente de três tipos:
- já há várias mortes que estão a ser “encobertas” pelas autoridades;
- vai ser decretada quarentena a partir de 13, 14 ou 15 de março por todo o país, com o fecho dos estabelecimentos comerciais e a ausência de mantimentos;
- as autoridades têm conhecimento de um número muito maior de infetados do que o divulgado à imprensa
Todas estas mensagens, que são comprovadamente falsas, só pretendem criar alarme social. E conseguem-no, “associando pessoas com destaque na sociedade portuguesa como fontes dessa informação desconhecida do público: médicos, dirigentes ou funcionários hospitalares; filhos de figuras da política, da televisão ou dirigentes de grandes empresas.”
Há mensagens de voz, supostamente de uma médica, que circulam em grupos do WhatsApp. A mensagem afirma que há várias mortes e refere uma situação de alarme.
Como esta há várias, sempre com o mesmo intuito: criar desconfiança nas informações e nas ações das autoridades oficiais. Mas, como é óbvio, seria impossível esconder esses factos, se fossem reais.
“Chegaram-nos mais de 280 réplicas de apenas sete mensagens comprovadamente falsas que assinalámos, nestes quatro dias de recolha. Ou seja: a velocidade de replicação, e o universo total de portugueses que as recebem, é considerável. Não é possível, contudo, saber exatamente a quantas pessoas chegou cada uma destas mensagens nem quem as criou ou difundiu originalmente. Por isso, é também impossível avaliar a razão por que estão a ser difundidas.”
Proteja-se e proteja os outros
Até ao momento já foram identificadas centenas de mensagens deste teor. E não há muito a fazer. O próprio WhatsApp recomenda que se desconfie de mensagens reencaminhadas. Esta rede do grupo Facebook não tem mecanismos de identificação de mentiras. E mesmo com moderadores de conteúdos e análise dos conteúdos, o Facebook também é um terreno fértil em fake news.
A melhor postura a adotar em relação a mensagens que não cheguem de entidades oficiais ou de reputação verificada é:
Questionar a veracidade
Seja uma gravação de voz ou uma publicação partilhada, com ou sem imagens, que chegou até si e se faça passar por uma mensagem genuína, questione sempre a sua origem e veracidade. Verifique os canais oficiais e os meios de comunicação com reputação.
Fontes anónimas não são credíveis
“Num caso de saúde pública não podemos confiar em pessoas que não conhecemos e que nunca poderemos identificar. Se alguém nos disser, numa mensagem de voz no WhatsApp, que pode curar o COVID-19 com um produto qualquer que essa pessoa inventou, não arriscaremos a nossa vida nessa experiência.”
O mesmo cuidado devemos ter com outras mensagens desse tipo. Há dezenas de fontes oficiais (como a DGS a OMS, SNS no twitter) e informativas com boa reputação (Diário de Notícias, Público, TSF).
Evitar também os media tablóides
Há muitos meios de comunicação com grande circulação em Portugal que se aproveitam da ignorância para criarem um clima de alarme permanente. Não ver, não ler, não ouvir, é a melhor solução.
Não faça parte da máquina de mentiras
As fake news só atingem esta dimensão perigosa porque são partilhadas por pessoas. É essa partilha que acaba por gerar problemas a sério. Ao deixar de partilhar mensagens, e até alertando quem as partilha para o erro que estão a cometer, a cadeia parte-se e as fake news perdem força.